20 de nov. de 2013

Brincando de ser criança

Por Aline Valadares
 
A palavra de ordem é brincar. Ao contrário do que alguns pais e daqueles que costumam dar “pitacos” na educação alheia acreditam, os brinquedos e as brincadeiras têm uma importância e um alcance maior do que o do simples fato de entreter os pequenos. A fala e a coordenação motora são exemplos de funções que podem ser desenvolvidas mais rapidamente e de maneira saudável com esta atividade, que em alguns momentos é considerada secundária.

Para Larissa Ornellas, professora doutora em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise, é brincando que a criança se desenvolve. Se a criança não brinca, este pode ser um indício de adoecimento. Além das questões físicas, a criança aprende a lidar com seus sentimentos. “O brincar é importante porque nele a criança projeta suas fantasias, seus desejos e frustrações”, explica a professora.

Nas mãos de Arthur Messeder, 3 anos, qualquer objeto vira brinquedo e qualquer ideia se transforma num cenário de brincadeiras. Sua maior cúmplice é a mãe Michele Nix, 24 anos, que mergulha no mundo da imaginação e das fantasias com o pequeno para começar mais uma brincadeira. São muitas ideias incentivadas por ela e desejos revelados por ele. 


Arthur se diverte na piscina de bolinhas com sua melhor companhia, a mamãe. Foto: arquivo pessoal
Com os dois lados em acordo, Michele dá as dicas: “existe um mundo de possibilidades. Contar história, desenhar, pintar, se fantasiar (pode usar um lençol) e fazer teatrinho. Vestir a roupa e os sapatos dos pais é sempre muito divertido e engraçado. Dançar junto uma música que ele goste, ou quem sabe todas as músicas do DVD do Patati Patatá. Fazer comidinha: separe os ingredientes e peça ajuda para misturar. Não se preocupe. Se sujar, limpa! Pega-Pega, esconde-esconde. Assista filmes com ele(a), e por favor, leve seu filho a praia”.

Plantar e cozinhar estão na lista de brincadeiras da dupla de mãe e filho. Foto: Michele Nix

Nos primeiros meses de vida tudo é novo. Para a mãe e para os seus bebês que começam a ter contato com o mundo externo. Para Mariana Borges, 24 anos, mãe dos gêmeos Pedro e Alice de 7 meses, as brincadeiras têm sempre um objetivo de estimular. 

“Quando eu pego um brinquedo e coloco distante deles, eles precisam engatinhar para alcançá-lo. Isso já conta como um estímulo à coordenação motora e também é legal para a criança reconhecer o espaço físico em que ela vive. Com Pedro e Alice eu procuro sempre fazer brincadeiras iguais, justamente para observar como cada um entende o que eu estou pedindo. Por serem gêmeos, eu faço questão de incentivar a brincadeira entre eles e aí fica tudo mais divertido”, observa Mariana.

Mariana se diverte com os gêmeos Pedro e Alice. Foto: arquivo pessoal
Uma das preocupações dos pais e parentes é o tipo de brinquedo. O medo de errar no brinquedo e na brincadeira se dá pela capacidade que a criança tem de absorver e reproduzir ideias e comportamentos do mundo externo. Veja o vídeo com os gêmeos Pedro e Alice brincando juntos:




“A escolha do tipo de brinquedo adequado precisa respeitar a idade cronológica. O amadurecimento psíquico-afetivo da criança é fundamental. Cada idade demanda uma forma diferenciada e escolhas de brinquedos diferenciados, se isso não for respeitado pode atrapalhar. Uma estimulação insuficiente é prejudicial ao desenvolvimento da criança, como também uma hiperestimulação, não respeitando o ritmo cognitivo-afetivo da criança, também pode prejudicar seu desenvolvimento”, explica Larissa Ornellas, que é mãe Clara, de 9 anos. 

Ainda de acordo com a professora e psicanalista, o brincar não é algo ensinado. Acontece de forma espontânea e é através das brincadeiras que a criança se representa simbolicamente enquanto sujeito no mundo. Quando brinca, a criança sai do egocentrismo que caracteriza seus primeiros anos de vida.

Uma ressalva surge para os pais e educadores quando o assunto é brinquedo eletrônico. Videogames, aplicativos de celulares e computadores. Todos aparentemente indefesos, mas que podem causar mais danos do que é possível imaginar. 


Maiane Nunes, 26 anos, mãe de Maine de 6 e de Rian de 3, assume que é necessário estar conectado com o mundo através das novas tecnologias, mas se preocupa com os efeitos a longo prazo que podem causar nos seus filhos. “De certa forma é bom saber que nossos filhos estão se adequando ao século 21 e atualizados, porém todo cuidado é pouco. Alienação e sedentarismo são preocupantes”, revela.

Maine e Rian, filhos de Maiane, brincam juntos no quintal de casa. Foto: arquivo pessoal
Larissa traz um alerta: “o excesso no uso dos jogos eletrônicos é a impossibilidade da criança engajar no ato do brincar a dimensão corporal, a tridimensionalidade do corpo no espaço, a vivência física do ato motor que envolve as brincadeiras fora do virtual”. Ela ainda completa: “nos jogos virtuais a criança encontra-se solitária diante de uma tela, não há o brincar compartilhado".

Um dos fatores que ficam comprometidos com o excesso de jogos eletrônicos que marcam a nossa contemporaneidade é o desenvolvimento dos órgãos dos sentidos primários. “As possibilidades de vivências das percepções sinestésicas, olfativas e gustativas ficam comprometidas e a longo prazo podem prejudicar o desenvolvimento neuro-cognitivo das crianças. Por isso a limitação do uso dos jogos virtuais em termos de tempo é imprescindível nas trocas educacionais entre pais e filhos”, alerta Larissa. 

Michele prefere não tê-los em casa, pelo menos por enquanto. Acredita também que o incentivo de brincadeiras em áreas externas e que envolvem mais criatividade por parte da criança vai interferir nas preferências do seu filho quando ele começar a ter um contato maior com as tecnologias fora de casa. 

“Não gosto de jogos de videogame, porque acho que eles acabam ficando sedentários e preguiçosos. Sentados no sofá, onde só levantam para comer, e voltam a jogar. Sei que ele vai crescer e vai ter esse contato com os amigos, não vou impedi-lo, mas tenho certeza que ele vai preferir jogar bola, ir à praia, brincar de esconde-esconde porque foi esse costume que passamos pra ele”, planeja a mãe de Arthur. 

Michele acredita que a praia é um lugar ótimo para levar Arthur. Foto: arquivo pessoal
  
Acreditando no poder da frase “criança vê, criança faz”, Michele procura não dar o exemplo a seu filho de uma pessoa que é dependente dos eletrônicos. “Se você não sair com seu filho para jogar bola ou ir à praia e ficar o dia todo mexendo no celular, iPad, iPod, computador, como acha que ele vai se interessar por outra coisa?”,  comenta a mãe que se orgulha com o bom desenvolvimento do filho com a fala e com a criatividade e desenvoltura pra contar histórias.

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