Por Aline Valadares
A palavra de ordem é brincar. Ao
contrário do que alguns pais e daqueles que costumam dar “pitacos” na educação
alheia acreditam, os brinquedos e as brincadeiras têm uma importância e um
alcance maior do que o do simples fato de entreter os pequenos. A fala e a
coordenação motora são exemplos de funções que podem ser desenvolvidas mais
rapidamente e de maneira saudável com esta atividade, que em alguns momentos é
considerada secundária.
Para Larissa Ornellas, professora doutora em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise,
é brincando que a criança se desenvolve. Se a criança não brinca, este pode
ser um indício de adoecimento. Além das questões físicas, a criança aprende a
lidar com seus sentimentos. “O brincar é importante porque nele
a criança projeta suas fantasias, seus desejos e frustrações”, explica a
professora.
Nas mãos de Arthur Messeder,
3 anos, qualquer objeto vira brinquedo e qualquer ideia se transforma num cenário
de brincadeiras. Sua maior cúmplice é a mãe Michele Nix, 24 anos, que mergulha
no mundo da imaginação e das fantasias com o pequeno para começar mais uma
brincadeira. São muitas ideias incentivadas por ela e desejos revelados por
ele.
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Arthur se diverte na piscina de bolinhas com sua melhor companhia, a mamãe. Foto: arquivo pessoal |
Com os dois lados em acordo, Michele dá as dicas: “existe um mundo de possibilidades. Contar história, desenhar, pintar, se fantasiar (pode usar um lençol) e fazer teatrinho. Vestir a roupa e os sapatos dos pais é sempre muito divertido e engraçado. Dançar junto uma música que ele goste, ou quem sabe todas as músicas do DVD do Patati Patatá. Fazer comidinha: separe os ingredientes e peça ajuda para misturar. Não se preocupe. Se sujar, limpa! Pega-Pega, esconde-esconde. Assista filmes com ele(a), e por favor, leve seu filho a praia”.
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Plantar e cozinhar estão na lista de brincadeiras da dupla de mãe e filho. Foto: Michele Nix |
Nos
primeiros meses de vida tudo é novo. Para a mãe e para os seus bebês que
começam a ter contato com o mundo externo. Para Mariana Borges, 24 anos, mãe dos gêmeos Pedro e Alice de 7 meses, as
brincadeiras têm sempre um objetivo de estimular.
“Quando eu pego um
brinquedo e coloco distante deles, eles precisam engatinhar para alcançá-lo.
Isso já conta como um estímulo à coordenação motora e também é legal para a
criança reconhecer o espaço físico em que ela vive. Com Pedro e Alice eu procuro
sempre fazer brincadeiras iguais, justamente para observar como cada um entende
o que eu estou pedindo. Por serem gêmeos, eu faço questão de incentivar a
brincadeira entre eles e aí fica tudo mais divertido”, observa Mariana.
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Mariana se diverte com os gêmeos Pedro e Alice. Foto: arquivo pessoal |
Uma das preocupações dos pais e parentes é o
tipo de brinquedo. O medo de errar no brinquedo e na brincadeira se dá pela
capacidade que a criança tem de absorver e reproduzir ideias e comportamentos do
mundo externo. Veja o vídeo com os gêmeos Pedro e Alice brincando juntos:
“A
escolha do tipo de brinquedo adequado precisa respeitar a idade cronológica.
O amadurecimento psíquico-afetivo da criança é fundamental. Cada idade
demanda uma forma diferenciada e escolhas de brinquedos diferenciados, se isso
não for respeitado pode atrapalhar. Uma estimulação insuficiente é prejudicial
ao desenvolvimento da criança, como também uma hiperestimulação, não
respeitando o ritmo cognitivo-afetivo da criança, também pode prejudicar seu
desenvolvimento”, explica Larissa Ornellas, que é mãe Clara, de 9 anos.
Ainda de acordo com a professora e
psicanalista, o brincar não é algo ensinado. Acontece de forma espontânea e é
através das brincadeiras que a criança se representa simbolicamente enquanto
sujeito no mundo. Quando brinca, a criança sai do egocentrismo que
caracteriza seus primeiros anos de vida.
Uma ressalva surge para os pais e
educadores quando o assunto é brinquedo eletrônico. Videogames, aplicativos de celulares
e computadores. Todos aparentemente indefesos, mas que podem causar mais danos
do que é possível imaginar.
Maiane Nunes, 26 anos, mãe de Maine de 6 e de Rian
de 3, assume que é necessário estar conectado com o mundo através das novas
tecnologias, mas se preocupa com os efeitos a longo prazo que podem causar nos
seus filhos. “De certa forma é bom saber que nossos filhos
estão se adequando ao século 21 e atualizados, porém todo cuidado é pouco.
Alienação e sedentarismo são preocupantes”, revela.
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Maine e Rian, filhos de Maiane, brincam juntos no quintal de casa. Foto: arquivo pessoal |
Larissa traz um alerta: “o excesso no
uso dos jogos eletrônicos é a impossibilidade da criança engajar no ato do
brincar a dimensão corporal, a tridimensionalidade do corpo no espaço, a
vivência física do ato motor que envolve as brincadeiras fora do virtual”. Ela ainda completa: “nos jogos virtuais a criança encontra-se solitária diante de
uma tela, não há o brincar compartilhado".
Um dos fatores que ficam comprometidos com
o excesso de jogos eletrônicos que marcam a nossa contemporaneidade é o
desenvolvimento dos órgãos dos sentidos primários. “As possibilidades de
vivências das percepções sinestésicas, olfativas e gustativas ficam comprometidas
e a longo prazo podem prejudicar o desenvolvimento neuro-cognitivo das crianças.
Por isso a limitação do uso dos jogos virtuais em termos de tempo é imprescindível
nas trocas educacionais entre pais e filhos”, alerta Larissa.
Michele prefere não tê-los em casa, pelo menos por
enquanto. Acredita também que o incentivo de brincadeiras em áreas externas e
que envolvem mais criatividade por parte da criança vai interferir nas preferências
do seu filho quando ele começar a ter um contato maior com as tecnologias fora
de casa.
“Não gosto de jogos de videogame, porque acho que eles acabam ficando
sedentários e preguiçosos. Sentados no sofá, onde só levantam para comer, e voltam
a jogar. Sei que ele vai crescer e vai ter esse contato com os amigos, não vou
impedi-lo, mas tenho certeza que ele vai preferir jogar bola, ir à praia,
brincar de esconde-esconde porque foi esse costume que passamos pra ele”,
planeja a mãe de Arthur.
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Michele acredita que a praia é um lugar ótimo para levar Arthur. Foto: arquivo pessoal |
Acreditando no poder da frase “criança vê, criança faz”,
Michele procura não dar o exemplo a seu filho de uma pessoa que é dependente
dos eletrônicos. “Se você não sair com seu filho para jogar bola ou ir à praia e
ficar o dia todo mexendo no celular, iPad, iPod, computador, como acha que ele vai
se interessar por outra coisa?”, comenta
a mãe que se orgulha com o bom desenvolvimento do filho com a fala e com a criatividade
e desenvoltura pra contar histórias.